Este trabalho foi elaborado com o intuito de apontar e explicar os fatores que ocasionam transtornos alimentares, com destaque à anorexia e bulemia, doenças que, infelizmente, vem ganhando destaque porque atingem principalmente as adolescentes e jovens adultas atualmente.
Dividido em tópicos para auxiliar na compreensão e percepção do risco destes transtornos, o texto procura analisar, dentro dos moldes de um artigo científico, como a preocupação estética converteu-se subitamente em uma enfermidade.
Baseando-se em estatísticas, relatos de nutricionistas especializados e revistas que tratam exclusivamente da estética feminina, o grupo deseja inicialmente compreender a supervalorização dos “padrões” de beleza impostos pela sociedade contemporânea. Bem como examinar a evolução cultural e as mudanças na mentalidade dos jovens, para traçar os aspectos básicos do estado físico e mental de mulheres que se privam de uma alimentação regular e saudável ou aquelas que induzem o vômito após uma refeição.
Anorexia + caloria = tortura
Em termos clínicos, anorexia nervosa é considerada uma enfermidade, onde o paciente, na maioria dos casos adolescentes e jovens adultas , apresenta o desejo obsessivo de emagrecer. Esse comportamento torna-se ainda mais preocupante quando o índice de massa corpórea (IMC) da anorética está abaixo do nível normal e mesmo assim, a mesma insiste em criar uma auto-imagem totalmente distorcida, acreditando estar com sobrepeso. A partir desta avaliação contraditória que o paciente tem de si, começam as dietas altamente restritivas, recusando-se a comer mesmo com fome, acompanhadas de atividades físicas exaustantes.
O fato de acreditar que magreza absoluta e medidas zero sejam sinônimos de beleza, não o torna verdade. Entretanto, essa é a concepção das pacientes que sofrem com anorexia nervosa, e a mesma é reforçada com os padrões estéticos difundidos pela sociedade contemporânea. Segundo dados do The Renfrew Center Foundation (Filadélfia), centro de reabilitação alimentar, 20% das pessoas anoréticas morrem prematuramente por complicações da doença, como o suicídio ou problemas cardíacos.
Anúncios publicitários em revistas e jornais, propagandas televisionadas e eventos de moda são alguns exemplos de veiculação do nível de perfeição a ser atingido pelo público feminino. O resultado desta idolatria notória é o transtorno alimentar e a frustração por acharem que não conseguem atingir o corpo ideal. Essa concepção é explanada pela psicanalista Kátia Silene Daré:
O ser humano vive numa cultura altamente estimulante para o desenvolvimento de transtornos emocionais, numa sociedade que faz crer a todos que o preço da não conformidade aos valores estéticos vigentes é obrigatoriamente a angústia e infelicidade. Por vezes mesmo quando esses valores são alcançados, por meio de regimes ou cirurgias estéticas, o transtorno alimentar pode se desenvolver devido a uma inconformidade de corpo físico x corpo emocional; onde estados de depressão e angústia também são freqüentes.
Em contrapartida, a opinião do médico psiquiatra Rodrigo Marot é fundamentada em estudos recentes que afirmam que a anorexia nervosa não é ocasionada apenas pela criação de um protótipo de beleza propagado pela mídia. Apesar desta hipótese ser considerada a principal causa para o comportamento de repúdio ao ganho de peso, a mesma é muito limitativa, pois segundo Marot, existem casos onde a anorexia foi diagnostica e não há recursos para supérfluos como a propagação do culto ao belo. Desta maneira, não é apenas uma influência da divulgação do corpo perfeito que desencadeia o distúrbio nutricional, mas um conjunto de acontecimentos pessoais que instabilizam a saúde mental do ser, deixando-o depressivo e afetando, em alguns casos seu apetite.
Muitas vezes eventos negativos da vida da pessoa desencadeiam a anorexia, como perda de emprego, mudança de cidade, etc. Não podemos afirmar que os eventos negativos causem a doença, no máximo só podemos dizer que o precipitam. [...] Até bem pouco tempo acreditava-se que a anorexia acontecia mais nas sociedades industrializadas. Na verdade houve falta de estudos nas sociedades em desenvolvimento. Os primeiros estudos nesse sentido começaram a ser feitos recentemente e constatou-se que a anorexia está presente também nas populações desfavorecidas e isoladas das propagandas do corpo magro.
Surge então o questionamento sobre a real causa do transtorno, entretanto não existe ainda uma resposta rápida e concreta. São necessários anos de pesquisas, acompanhamento médico qualificado e altos investimentos para a realização destes estudos. Também não existe na área médica um tratamento que garanta a cura da anorexia, nem medicamentos específicos que restabeleçam a correta percepção da imagem corporal ou desejo de perder peso. Por enquanto as medicações têm funcionado apenas como paliativos, é o caso dos antidepressivos que culminam no aumento do peso e das psicoterapias realizadas individualmente, bem como através do acompanhamento familiar.
Alguns pesquisadores, inclusive afirmam que a percentagem de pacientes considerados totalmente recuperados foi quase o dobro entre os que receberam tratamento de base familiar . Isso ocorre porque a terapia individual é direcionada apenas em ajudar o adolescente a administrar sua alimentação, focando nos aspectos emocionais e psicológicos da doença. Já a terapia familiar encarrega os pais a mudarem o comportamento de seu filho, criando um cardápio saudável e moderando os exercícios.
Anorexia alcoólica
Além da anorexia nervosa, vem ganhando destaque outra espécie desta doença: a anorexia alcoólica. A mesma é também conhecida como drunkorexia, termo originado nos EUA. Em outras palavras trata-se de um transtorno alimentar que restringe a alimentação saudável associado à excessiva ingestão de álcool, para que a mulher consiga atingir o tão desejado corpo esbelto. Juntamente ao distúrbio alimentar, outro fator que resulta a anorexia alcoólica é o aumento da popularização concernente ao consumo de bebidas alcoólicas entre adolescentes.
Vale salientar que o alcoolismo, está associado a problemas psicológicos como depressão, ansiedade, bulimia e anorexia. Com isso, a mulher passa a ingerir certa quantidade de álcool para inicialmente, atenuar suas dificuldades. Com o tempo, seu organismo se habitua e passa a exigir quantidades maiores. Dessa forma, o álcool excessivo inibe o apetite e o conseqüente consumo de nutrientes, originando a anorexia alcoólica. O tratamento desta doença também deve ser realizado com o apoio e o acompanhamento da família, a fim de desenvolver a autoconfiança da jovem e fortalecer sua personalidade.
Brincando de ser Barbie
É de conhecimento geral que a obesidade mórbida infantil vem afetando a saúde da criança com doenças até então relacionadas apenas aos adultos como hipertensão e diabetes. Mas o que ainda não é totalmente divulgado é o fato da anorexia nervosa estar atingindo precocemente as crianças e pré-adolescentes.
Entretanto, ao contrário do que ocorre nas adolescentes, a anorexia infantil não está relacionada apenas aos valores estéticos, apesar de que as crianças são bombardeadas com imagens do corpo perfeito de apresentadoras de programas infantis, cantoras e até mesmo as ilustrações dos desenhos animados. Mas, ligado a isso existe o fator familiar, pois o cuidado dos pais em relação à saúde dos filhos que são um pouco “cheinhos” pode se tornar exagerado e neurótico. Restringir a alimentação da criança, cria nela um pavor à comida, pois ainda não há a capacidade de entendimento sobre calorias. Além disso, a anorexia nervosa infantil traz sérios riscos à saúde da paciente, como o impedimento da altura geneticamente determinada, enfraquecimento dos ossos, diminuição da pressão arterial e do ritmo dos batimentos cardíacos.
É necessário haver consentimento entre os pais sobre a alimentação das crianças, bem como respeitar cada fase do crescimento, pois apesar de absurdo, muitos pais levam suas filhas pré-adolescentes ao endocrinologista por elas “acumularem” muita gordura.
Grupo “pró-ana”
Nos espaços virtuais, vem se propagando idéias a favor da anorexia, defendendo-a como “estilo de vida”, um padrão a ser adotado por todos. As bonequinhas anoréticas, como são mais conhecidas, na realidade são adolescentes com o IMC dentro dos níveis normais, entretanto desejam assiduamente emagrecer para que possam alcançar sua felicidade. Uma delas, que usava o codinome D.M. apresente a síndrome parcial, ou seja, não apresenta todos os sintomas de uma anorética, mas fica dias sem comer, usa laxantes, ou pratica exercícios físicos exaustantes.
Essas meninas tratam a doença como garantia para o corpo perfeito, inclusive a chamam de “Ana” e criam comunidades em sítios de relacionamento contento textos, música e imagens para incentivar os longos períodos de abstinência alimentar.
A anorexia é a minha vida, minha melhor amiga, ou mesmo minha amante. Trata-se, infalivelmente de que sempre que eu preciso, ela está aqui para ajudar-me. O fato de que ela possa estar lentamente me matando, de certa forma é bom pelos benefícios em curto prazo que ela traz. [...] A mídia cria uma imagem de mulher perfeita e quando resolvemos emagrecer para estar de acordo com o padrão de beleza querem nos punir, dizendo que estamos doentes. Doentes são eles.
É preciso ressaltar que não adianta apenas criticar estas adolescentes, pois o seu comportamento é conseqüência da imposição do modelo estético a ser adotado pelas mulheres. A cultura mundial valoriza o corpo esbelto, enquanto que as adolescentes a favor da anorexia estigmatizam o corpo esquelético e apontam a gordura como uma “falha evolutiva” e sinônimo de infelicidade.
Ninguém aceita a idéia de uma pessoa passar dias sem comer por uma imagem perfeita, nos rotulam de maníacas doentes. Na verdade estamos apenas seguindo nossas vidas em busca dos valores no quais acreditamos. Valores que as próprias pessoas nos passaram: desde cedo aprendemos nessa sociedade que ser obeso é ser nojento.
Contudo não se pode deixar que publicações a favor da anorexia se tornem comuns, é necessário haver um tratamento psiquiátrico e nutricional, visando restabelecer o equilíbrio mental das “pró-ana”, além de procurar o apoio da família, dos amigos e de pessoas que conseguiram se recuperar.
Ingerir ou digerir: eis a questão?
A bulimia consiste na prática de induzir o vômito ou usar laxantes de maneira abusiva após uma refeição, como forma de evitar o ganho calórico. Assim como a anorexia, a bulimia é também considerada um transtorno alimentar que atinge um grande contingente de adolescentes que desejam alcançar o corpo perfeito e consequentemente, a felicidade.
O quadro clínico de uma bulímica é mais difícil de ser diagnosticado porque as pacientes geralmente apresentam o peso normal ou usam roupas muito largas para disfarçar a magreza. Entretanto, por problemas psicológicos como a ansiedade e depressão, as pacientes com bulimia comem exageradamente e para que não haja o ganho calórico, eliminam de maneira não natural.
Assim como o grupo “pró-ana”, também vem sendo divulgado o grupo “pró-mia”, que também objetiva aconselhar e incentivar as adolescentes que desejam emagrecer através da bulimia. Do mesmo modo, é necessário iniciar o tratamento psiquiátrico dentro do ambiente familiar, pois a característica marcante em todos esses transtornos é a alienação dos adolescentes quanto as suas reais necessidades físicas e a fácil influência da mídia.
Considerações finais
O julgamento ideal para a beleza na atualidade é o corpo esguio, e as adolescentes estão constantemente sacrificando sua saúde física e mental para alcançar o padrão que é constantemente imposto pela mídia. No passado ter curvas arredondadas era análogo ao belo, porém com os avanços na medicina, descobriu-se que o excesso de tecido adiposo desencadeava diversas doenças como hipertensão, diabetes e obesidade. Com o tempo a mídia passou a divulgar os benefícios de um corpo magro, e infelizmente, vêm influenciando de forma negativa as jovens. No entanto não se pode apenas culpar a propagação das imagens de modelos e celebridades magérrimas, pois a sociedade tornou-se vazia ao cultuar apenas a aparência.
Diferentemente do que se imaginava, os casos de transtornos alimentares vêm atingindo cada vez mais, as crianças e pré-adolescentes seja pela pressão familiar ou pelas constantes imagens de corpos bonitos das mulheres que fazem parte do meio infantil, como cantoras e apresentadoras. A atenção deve ser redobrada porque a criança ainda não se desenvolveu por completo e necessita de todos os nutrientes para que possam crescer de forma saudável.
Infelizmente, ainda não existe cura nem medicamentos que cessem os transtornos alimentares, mas o acompanhamento familiar tem grande importância pois auxilia no âmbito nutricional e psicológico. Para que haja então a total recuperação da anorexia ou bulimia, se faz necessário o tratamento psiquiátrico e nutricional, bem como a análise pessoal de cada paciente.
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