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4 de mar. de 2012

A situação da mulher na Idade Média

Mulher medieval
A participação e o lugar da mulher na História foram negligenciados pelos historiadores por muito tempo. Elas ficaram à sombra de um mundo dominado pelo gênero masculino. Ao pensarmos o mundo medieval e o papel desta mulher, esse quadro de exclusão se agrava ainda mais, pois alem do silêncio que encontramos nas fontes, os textos que muito raramente tratam o mundo feminino estão impregnados pela aversão dos religiosos da época por elas.
Na Idade Média, a maioria das idéias e de conceitos eram elaborados pelos Escolásticos. Tudo o que sabemos sobre as mulheres deste período saiu das mãos de homens da Igreja, pessoas que deveriam viver completamente longe delas. Muitos clérigos consideravam-nas misteriosas, não compreendiam, por exemplo, como elas geravam a vida e curavam doenças utilizando ervas.
A mulher para os clérigos era considerada um ser muito próximo da carne e dos sentidos e, por isso, uma pecadora em potencial. Afinal, todas elas descendiam de Eva, a culpada pela queda do gênero humano. No inicio da Idade Média, a principal preocupação com as mulheres era mantê-las virgens e afastar os clérigos desses seres demoníacos que personificaram a tentação. Dessa forma, a maior parte das autoridades eclesiásticas desse período via a mulher como portadora e disseminadora do mal. Isso as tornava má por natureza e atraída pelo vício.
A partir do século XI com a instituição do casamento pela Igreja, a maternidade e o papel da boa esposa passaram a serem exaltados. Criou-se uma forma de salvação feminina a partir basicamente de três modelos femininos: Eva (a pecadora), Maria (o modelo de perfeição e santidade) e Maria Madalena (a pecadora arrependida).
O matrimônio vinha para saciar e controlar as pulsões femininas. No casamento a mulher estaria restrita a um só parceiro, que tinha a função de dominá-la, de educá-la e de fazer com que tivesse uma vida pura e casta.
Eram consideradas como a causa e objeto do pecado, era portadora de entrada para o demônio.Só não eram consideradas objetos do pecado quando eram virgens, mães ou esposas, ou quando viviam no convento. Quando eram esposas não podiam vender nem hipotecar seus bens sem a autoridade e consentimento do seu marido.
As camponesas trabalhavam muito: cuidavam das crianças, fiavam a lã, teciam e ajudavam a cultivar as terras. As mulheres com um nível social mais alto tinham uma rotina igualmente atribulada, pois administravam a gleba familiar quando seus maridos estavam fora, em luta contra os visinhos ou em cruzadas à Terra Santa. Atendimento aos doentes, educação as crianças também eram tarefas femininas.
Essa falta de conhecimento da natureza feminina causava medo aos homens. Os religiosos se apoiavam no Pecado Original de Eva para ligá-la à corporeidade e inferiorizá-la. Isso porque, conforme o texto bíblico, Eva foi criada da costela de Adão, sendo, por isso, dominada pelos sentidos e os desejos da carne. Devido a essa visão, acreditava-se que ela foi criada coma única função de procriar.
Na idéia do Pecado Original encontramos uma outra característica criticada nas mulheres pelos clérigos, atagarelice. Afinal foi por um pedido de Eva que Adão aceitou o fruto proibido, e pó isso, foi considerada uma enganadora.
Maria foi à redentora de Eva, que veio ao mundo com a missão de liberar Eva da maldição da Queda. Desenvolveu-se então a idéia de Maria era a mãe da humanidade, de todos os homens e mulheres que viviam na graça de Deus, enquanto Eva era a mãe de todos que morrem pela natureza. O culto a Maria se baseava em quatro pilares: a maternidade divina, a virgindade, a imaculada concepção e a assunção.
Por isso, as mulheres eram encorajadas a se manterem castas até o casamento, se a sua opção de vida fosse o matrimônio. Porém, a melhor forma de seguir o exemplo de Maria era permanecer virgem e tornar-seesposa de Cristo, com base na idéia recorrente de que Maria era “irmã, esposa e serva do Senhor”. Eva simbolizava as mulheres reais, e Maria um ideal de santidade que deveria ser seguido por todas as mulheres para alcançar a graça divina, caminho para a salvação.
Mas como Maria era um ideal a ser seguido, inatingível pelas mulheres comuns, surge à figura de Maria Madalena, a pecadora arrependida, demonstrando que a salvação é possível para todos que abandonam uma vida cheia de pecados. Com essa imagem de mulher pecadora que se arrepende e segue o mestre até o calvário, Maria Madalena veio demonstrar que todos os pecadores são capazes de chegar a Deus.
A partir daí foi concebido as mulheres, assim como a pecadora o direito ao arrependimento, demonstrado pela prostração, humilhação e lagrimas, em oposição à tagarelice de Eva, que levou toda a humanidade ao pecado. Por isso, a pregação feminina deveria ser sem palavras, feita apenas pela mortificação corporal. 
Todo este antí-feminismo tinha como objetivos básicos: afastar os clérigos das mulheres, institucionalizar o casamento e a moral cristã, moldada através da criação de um segundo modelo feminino a Virgem Maria.
Os três modelos difundidos por toda a Idade Média (Eva, Maria e Madalena) deixam claro o papel civilizador e moralizador desempenhado pela Igreja Católica ao longo de aproximadamente mil anos de formação da sociedade ocidental.
A própria passagem da visão de corporeidade e danação feminina, pautada no modelo de Eva, vista como aliada do demônio. Esse estado de maldição foi amenizado com o culto à Virgem Maria, que trouxe consigo a reconciliação entre a humanidade e Deus, contudo, essa reconciliação ainda restritiva, pois somente aqueles que vivessem na graça divina alcançariam à salvação. Com Maria Madalena se estende a possibilidade de salvação a todos que tinham caído no erro, mas foram capazes de se arrepender.
Eva concentra em si todos os vícios que trazem símbolos tidos como femininos, como a luxuria, a gula, a sensualidade e a sexualidade. Todos esses atributos apareciam nela como exemplo. E como forma de salvação para a mulher, eles ofereciam a figura de Maria Madalena, a prostituta arrependida mais conhecida e que se submeteu aos homens e a Igreja.
Fica claro assim que não é possível analisar o que as mulheres pensam de si próprias: o que nos foi transmitido pelas fontes são modelos ideais e regras de comportamento que nem sempre são positivos.
Essa concepção de mulher, que foi construída através dos séculos, é anterior mesmo ao cristianismo. Foi assegurada por ele e se deu porque permitiu a manutenção dos homens no poder, fornecia uma segurança baseada na distância ao clero celibatário, legitimou a submissão da ordem estabelecida pelos homens. Esta construção começou apenas a ruir, mas os alicerces ainda estão bem fincados na nossa sociedade.
Texto escrito pela Professora Patrícia Barboza da Silva Licenciada pela Fundação Universidade Federal do Rio Grande – FURG.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
DUBY, G; PERROT, M (dir). História das mulheres: a Idade Média. Porto; Afrontamento, 1990.
RAMON, Llull. Missoginia e santidade na Baixa Idade Média: os três modelos femininos no livro das maravilhas. Instituto Brasileiro de Filosofia e ciência Raimundo Líilio. 2002.
Autoria: Patrícia Barboza da Silva

A Origem do Homem


A cronologia da origem do homem e sua evolução não é precisa. Existem numerosas classificações, muitas vezes contraditórias, pois ainda há várias lacunas importantes.  
De um modo geral, podemos dizer que um tronco comum deu origem aos grandes macacos ou antropóides (Pongidae) e aos humanos (Hominidae). Em algum momento, essas duas famílias se formaram e evoluíram em sentidos diferentes: os Pongidae assumiram as formas do gorila, do chimpanzé, do orangotango e do gibão atuais, enquanto os Hominidae passaram por várias transformações, até chegar ao Homo sapiens sapiens.  

O Australopithecus  

Os hominídeos ou homínidas são classificados em dois gêneros. O primeiro é o Australopithecus (do latim australis = meridional + o grego pithecos = macaco), que apresentava características físicas ainda distantes do homem atual. O segundo é o gênero Homo, ao qual pertencemos. Não se sabe se o Homo evoluiu do Australopithecus ou se ambos são gêneros independentes, ligados a um ancestral comum. Mas tudo indica que os primeiros hominídeos viveram na Africa Sul-Oriental.
Há três espécies conhecidas de australopitecos. O Australopithecus aferensis é o mais antigo, tendo vivido cerca de 3 milhões de anos atrás. Já o Australopithecus africanus e o Australopithecus robustus existiram respectivamente até 1,5 e 1 milhão de anos antes de nossa era, sendo que o A. africanus pode ter dado origem ao gênero Homo. Essas três espécies são claramente diferenciadas dos Pongidae porque, apesar de sua pequena ca4acidade craniana (400 cm3 para o A. aferensis e 500 cm para os outros), tinham postura bípede e não possuíam as grandes presas (dentes caninos) existentes nos antropóides.
Crânio de um Astralopithecus ancestrau do homemCrânio de um Astralopithecus, encontrado na África do Sul

Homo habílis

Há cerca de 2 milhões de anos — sendo portanto a espécie posterior à origem do homem, contemporânea do Australopithecus africanus e do Australopithecus robustus — surgiu a primeira espécie do gênero Homo: o Homo habilis, assim chamado por sua capacidade de utilizar, pela primeira vez, pedras cortantes ou aguçadas para quebrar invólucros de sementes, cavar a terra em busca de raízes ou esquartejar animais. Seu volume craniano variava entre 650 e 800 cm3. Além disso, tinha uma postura menos curvada que a dos australopitecos.

Homo erectus

Cerca de 1,5 milhão de anos atrás, o Homo habilis, até então restrito à Africa, deu origem a uma espécie que se disseminaria pela Ásia e Europa: o Homo erectus. Este, além de demonstrar uma notável evolução no uso de utensílios de pedra (facas, machados, raspadores), deve ter iniciado a linguagem falada e, há cerca de 500000 anos, começado a abrigar-se em cavernas e a produzir fogo. No aspecto físico, o Homo erectus não ultrapassava 1,5m de altura; tinha a arcada superciliar saliente e uma mandíbula maciça, desprovida de queixo. A cabeça articulava-se com a coluna vertebral de modo a ficar ligeiramente projetada para a frente.
Além dos muitos fósseis de Homo erectus encontrados na Africa, descobriram-se outros, ligeiramente diferenciados, na Ásia e na Europa. São eles o Javantropo, o Sinantropo e o Paleantropo (do grego anthropos = homem), localizados respectivamente na Ilha de Java (Indonésia), perto de Pequim (China) e em Heidelberg (Alemanha). Os três foram classificados como subespécies do Homo erectus e receberam, em complementação, as denominações javanensis, pekinensis e heidelbergensis.
Uma das origens do homem, o Sinantropo e a JavantropoReconstituição de dois antepassados do Homo sapiens. Da esquerda para a direita; o Sinantropo e a Javantropo.
Aproximadamente em 300000 a.C., o Piorno erectus começou a sofrer transformações que iriam resultar na espécie à qual pertencemos: o Homo sapiens.

Homem de Neanderthal

Restos da subespécie mais antiga do Horno sapiens foram descobertos pela primeira vez no vale (em alemão = thal) do Rio Neander, na Alemanha; daí terem recebido o nome científico de Homo sapiens neanderthalensis. Exemplares semelhantes seriam depois encontrados na França, Iugoslávia, Palestina e Africa do Norte.
A estatura do homem de Neanderthal era pouco superior a 1 ,5m. Seu crânio apresentava-se levemente achatado no occipital, com a testa bastante inclinada para trás, maxilares robustos e queixo pouco pronunciado. A arcada superciliar era menos saliente que nas espécies precedentes.
Os neandertalenses caçavam em grupo e abrigavam-se do frio em cavernas. Viveram entre 120 000 e 35 000 a.C. As razões de seu desaparecimento não são claras, mas muitos devem ter-se miscigenado ou sido exterminados pela segunda e mais evoluída subespécie do Piorno sapieM, denominada cientificamente Homo sapiens sapiens — ou seja, o homem atual.
A oigem deslocamento do homem na pré-históriaO mapa indica o processo migratório do homem em direção a outros continentes, a partir da África.

Homo sapiens sapiens

O Horno sapiens sapiens surgiu por volta de 40000 a.C. Os primeiros espécimes estudados foram descobertos em uma localidade do Sul da França; daí serem designados pelo nome de homem de Cro-Magnon. Eram mais altos que os neandertalenses e tinham traços fisionômicos menos pesados, com o crânio alongado, a fronte ampla e o queixo arredondado.
O Horno sapiens sapiens substituiu o homem de Neanderthal e, por volta de 25000 a.C., espalhou-se pela Terra. Coube a ele aperfeiçoar as técnicas de obtenção de alimentos, ampliar as formas de organização social, estruturar a religião e produzir manifestações artísticas. E, com o passar do tempo, o Horno sapiens sapiens deu origem às raças humanas.
Atualmente, muitos estudiosos evitam utilizar o termo raça para designar um grupo humano com determinado fenótipo; em seu lugar, preferem a palavra etnia. O motivo para essa rejeição é sobretudo ideológico, devido à conotação negativa de “raça’ com “racismo” (atitude anticientífica baseada na pretensa superioridade de certas raças sobre as demais).
Ora, como o conceito de etnia envolve também peculiaridades culturais, é difícil deixar de usar a palavra raça quando se levam em conta as características estritamente físicas dos grupos humanos (cor da pele e dos olhos, estatura, formato do crânio e do rosto, tipos de nariz e cabelo etc.). Más, tais características são estudadas pela Antropologia Física, cabendo à Antropologia Cultural a realização dos estudos etnográficos e etnológicos.
Acredita-se que as raças humanas atuais tenham resultado da fixação de certos grupos em áreas específicas, a cujo meio se adaptaram. Nesse caso, como a procriação se processou dentro de um universo restrito, acentuaram-se determinados traços físicos, diferenciando um grupo de outro. E óbvio que tais diferenças não implicam qualquer idéia de superioridade ou inferioridade entre esses grupos.

A Mulher na Idade Média

Quadro que representa a mulher na idade média
“A alma de uma mulher e a alma de uma porca são quase o mesmo, ou seja, não valem grande coisa.” (Arnaud Laufre).
“Toda mulher se regozija de pensar no pecado e de vivê-lo.” (Bernard de Molas).
“Quem bate numa mulher com uma almofada, pensa aleijá-la e não lhe faz nada” (Provérbio da época).
Por estes pensamentos da época já da para se ter uma idéia da visão que o homem tinha da mulher. Mas aí é que está, não se pode concluir como era a vida da mulher apenas pela visão masculina. Pois esta pode estar distorcida, ser apenas fruto de sua imaginação. É necessária que seja feita uma avaliação também da visão feminina.  Aqui mostramos essa avaliação da visão de ambos os sexos. Para tentar concluir como era a vida das mulheres na Idade Média.


A mulher na Família

As filhas eram totalmente excluídas da sucessão, quando contraiam matrimônio recebiam um dote, constituído de bens que seriam administrados pelo marido.  A linhagem beneficiava apenas componentes do sexo masculino, e a herança só era passada para o primogênito, isso como forma de evitar a divisão dos bens da família. Quando a mulher se casava passava a fazer parte da família do esposo. Nessa nova família, quando viúva, não tinha direito à herança.
O casamento era um pacto entre duas famílias, seu objetivo era simplesmente a procriação. A mulher era ao mesmo tempo doada e recebida, como um ser passivo. Sua principal virtude, dentro e fora do casamento, deveria ser a obediência, submissão. Filha, irmã, esposa: servia somente de referência ao homem que estava servindo.
A inferioridade feminina provinha da fragilidade do sexo, da sua fraqueza ante aos perigos da carne. No centro da moral cristã existia uma aguada desconfiança em relação ao prazer. Ele, segundo os moralistas, mantinha o espírito prisioneiro do corpo, impedindo-o de se elevar em direção a Deus.
Na prática do sexo, sempre com o objetivo único da procriação, a mulher não deveria demonstrar sensação de prazer, a posição deveria ser o homem sobre a mulher. Essa posição obrigatória da prática do sexo indicava a situação de submissão que dela se esperava.
Seguramente, na concepção dos religiosos, o marido que amasse excessivamente sua esposa era visto como adúltero. Não deveria usá-la como se fosse uma prostituta. A mulher não podia tratar o marido como se ele fosse seu amante. Por intermédio do casamento, o corpo da mulher passava a pertencer ao seu esposo. Mas a alma dela deveria sempre permanecer na posse de Deus.
Na época, buscava-se justificar o desprezo dos homens pelas mulheres de todas as formas. Para os pensadores da época, a palavra latina que designava o sexo masculino, Vir, lembrava-lhes Virtus, isto é, força, retidão. Enquanto Mulier, o termo que designava o sexo feminino lembrava Mollitia, relacionada à fraqueza, à flexibilidade, à simulação.
Aos homens, pais ou maridos cabia o direito de castigá-las como uma criança, um doméstico, um escravo.  Este desdém revela ao mesmo tempo desconfiança e temor. Os homens receavam o adultério por parte da esposa. Temiam que lhes oferecessem certos filtros mágicos que os levassem a impotência. Esterilidade, esta, que assustava os homens.


Atividades Profissionais

Na época, a mulher era vista como um ser que foi feito para obedecer. Não era bom que uma mulher soubesse ler e escrever, a não ser que entrasse para a vida religiosa. Uma moça deveria, isso sim, saber fiar e bordar. Se fosse pobre, teria necessidade do trabalho pra sobreviver. Se fosse rica, ainda assim deveria conhecer o trabalho para administrar e supervisionar o serviço de seus domésticos e dependentes.
Entretanto, não devemos pensar na mulher como um grupo compacto e oprimido pelos homens. As diferenças sociais foram sempre tão fortes como as diferenças de sexo. Muitas vezes a opressão era exercida pelas mulheres poderosas sobre as suas dependentes. 
As camponesas deveriam, quando casadas, acompanhar seus maridos em todas as atividades desempenhadas no domínio senhorial onde trabalhava. Quando viúva trabalhava com os filhos ou sozinha. Já às aristocratas cabia a tarefa de ser dona de casa, função difícil na época, pois a economia doméstica era bastante complicada, exigiam muita habilidade e senso de organização da dama. O suprimento de alimentos e vestimentos da vasta família estava sob sua responsabilidade. Tinha de administrar o trabalho dos domésticos, acompanhar passo a passo à fabricação dos tecidos, controlar e supervisionar o abastecimento de alimentos.


Aspectos da Marginalidade Feminina 

É difícil sustentar a hipótese de uma marginalização generalizada da mulher na Idade Média. O casamento, tornando-a responsável pela reprodução biológica da família, garantia-lhe papel de relevo na estabilidade da ordem social. Juridicamente despersonalizada, esteve reduzida ao meio familiar e doméstico.
Em alguns casos não se tratava apenas de marginalização de mulheres. A heresia, por exemplo, teve seguidores dos dois sexos.
Os movimentos heréticos representavam perigo para a doutrina oficial da Igreja em vários momentos desde a afirmação do cristianismo como religião preponderante no Ocidente. As heresias, doutrinas contrárias ao que se foi estabelecido pela Igreja, levados, pela independência na interpretação de textos sagrados, ao confronto com os dogmas estabelecidos, e outras vezes de velhas tradições pagãs não assimiladas pelo cristianismo e refutadas por esse motivo.
Na heresia, ao contrário das normas da Igreja, existia espaço para a pregação ao sexo feminino. Em uma das doutrinas hereges, as mulheres poderiam se tornar “perfeitas”, um grau superior nesta doutrina. Ao que tudo indica, esta mulher “perfeita” poderia prestar os mesmos serviços espirituais que o um homem, tendo os mesmos direitos e o mesmo apoio que eles gozavam.
Outra questão que levava a marginalidade feminina era a prostituição. Parece surpreendente o fato de uma atividade oposta aos rígidos padrões morais da época ter sido tão amplamente desenvolvida, tornando-se mesmo pública entre as pessoas que estabeleciam os fitos padrões. A prostituição, na verdade, foi sempre ambígua, considerada um “mal necessário”. Em última instância, a prostituição, imoral, colaborava para a sanidade da sociedade.
A prostituição resolvia o problema dos jovens. A difusão da prostituição em meio urbano diminui a turbulência característica desse grupo. O recurso aos “casarões noturnos” diminuiu a possibilidade de estupros, arruaças e violências generalizadas cometidas pelas agremiações juvenis. Resolvia também o problema da homossexualidade masculina.  A prostituição servia ainda de remédio às fraquezas dos clérigos diante dos prazeres da carne.
Assim, de pernicioso aos olhos dos moralistas, pela garantia da moralidade pública, o meretrício, mais que tolerado, foi estimulado. Entretanto as “marcadoras do prazer” jamais foram bem vistas. Pelo contrário, era preciso afastá-las das “pessoas de bem”.


Conclusão

Ao final deste trabalho conclui-se que:
A mulher era vista como submissa pois era temida. Considerava-se que a mulher era o pecado, a carne fraca.
O casamento não tinha nunca o objetivo de unir pessoas que se amam, ou o objetivo de dar prazer a alguma das partes, e sim o objetivo da procriação.
A mulher quando se casava simplesmente trocava de homem ao qual tinha que se submeter (de pai para agora marido).
A prostituição era considerada um “mal necessário”, pois curava vontades de jovens e clérigos, mas ainda assim as prostitutas eram marginalizadas da sociedade.
As doutrinas diferentes à religião católica pregavam que a mulher poderia ter os mesmos direitos que os homens, por isso eram calorosamente perseguidas pela Igreja.
À mulher cabia as responsabilidades domésticas, exceto no caso de camponeses e classes mais baixas, que deveriam acompanhar seu marido no trabalho feudal.
Bibliografia
MACEDO, José Reaver. A mulher na idade média. São Paulo. Editora Contexto. 1990.
Autoria: Giovanna de Fraga Carneiro 

A Igreja e o Sacro Império

A igreja modificou profundamente o mundo medieval com a conversão dos bárbaros romanos
Durante a Alta Idade Média, o clero encontrava-se dividido emsecular regular. O clero secular era composto pelos presbíteros, diáconos, bispos, metropolitanos, patriarcas e papa. Chamava-se secular porque seus componentes viviam em contato com o saeculum, (mundo não- eclesiástico). Já o clero regular era composto pelos monges, seguidores de uma regra que pregava, essencialmente, a castidade, a pobreza e a caridade. Esse clero propunha-se um comportamento mais espiritual e o afastamento das coisas mundanas, materiais.
O clero que primeiro se organizou foi o secular; o regular surgiu como reação àquele. Os primeiros monges apareceram noImpério Romano por volta do século III. Mas foi São Bento de Núrsia que organizou no Monte Cassino (Itália) o primeiro mosteiro, que se propunha, além dos votos normais, a obediência, o trabalho produtivo e as orações. Era a regra beneditina. Por essa regra, os monges deveriam obedecer ao abade, chefe do mosteiro, escolhido pelos próprios monges.
No plano social, de uma maneira global, podemos dividir o clero em alto e baixo. O alto clero era composto por membros da nobreza feudal que se tomavam bispos ou abades. O baixo clero era de origem mais modesta, sendo constituído por padres e monges. Qualquer cristão podia ingressar no clero, exceto os servos, pois estes estavam presos à terra que cultivavam.
A regra de escolha dos abades pelos monges, e dos bispos pelos presbíteros não foi seguida durante a Idade Média. Os bispos eram investidos nas suas funções pelos condes, duques, reis e imperadores. Assim, os escolhidos nem sempre tinham a vida regulada, como conviria a um religioso. Eram na verdade senhores eclesiásticos que usufruíam dos rendimentos dos bispados e das abadias recebidas dos suseranos leigos como feudo, estando pois obrigados a cumprir os deveres normais de qualquer vassalo. Essa investidura leiga teve repercussões nocivas sobre o clero. Os bispos e abades tinham vida imoral para um religioso e influenciavam negativamente o clero inferior, levando os monges a se casarem ou terem amantes. Esse desregramento moral do clero é chamado nicolaísmo (porque Nicolau, um bispo, pregou o direito de casamento dos clérigos). Outro problema decorrente é a simonia, que consistia em negociar coisas sagradas — inclusive os cargos eclesiásticos.
Por volta do século X, começaram os movimentos de reação dentro da própria Igreja contra a investidura leiga, a simonia e o nicolaísmo, conduzindo à Querela das Investiduras (luta entre os imperadores germânicos e o Papado).


2. A cristianização da Europa

O processo de cristianização da Europa foi muito lento. Estendeu-se do século V ao XI. Dividiu-se em duas etapas: batismo e conversão. O batismo foi a fase inicial, na qual apenas os chefes das tribos germânicas eram batizados, considerando-se a cerimônia extensiva a seus comandados. O mais difícil foi converter, isto é, ensinar a doutrina (dogmas, moral e obrigações).
O papel do Papado nessa empresa religiosa foi enorme. Começou com o papa Gregório Magno (590-604), verdadeiro chefe político e religioso de Roma, dirigente supremo de toda a Cristandade. Gregório procurou reaproximar as Igrejas cristãs e os mosteiros espalhados pelo mundo ocidental e separados pelas invasões do século V. Estimulou a fé dos clérigos e a cultura religiosa, por meio de escritos como a Regra Pastoral. Compôs também hinos religiosos, o chamado canto gregoriano.
Gregório estimulou a conversão dos pagãos e dos cristãos pertencentes à seita ariana, isto é, adeptos da heresia de Ano, bispo que pregava ser Cristo uma criatura de natureza apenas humana.
Por seu estímulo, monges seguiram para a Britânia, onde os anglo-saxões foram convertidos, sob a liderança de Santo Agostinho (não confundir com o teólogo do mesmo nome), que fundou o primeiro bispado no país. Outros monges partiram da Irlanda, que já fora cristianizada, para converter os bárbaros da Inglaterra Setentrional e os pagãos da Escócia. Essas duas correntes evangelizadoras mais tarde entrariam em choque, visto que seus ensinamentos não eram exatamente os mesmos.
Os mosteiros anglo-saxões tornaram-se importantes centros culturais na Alta Idade Média, não só porque conservaram obras da Antiguidade Clássica, mas também pela erudição de muitos de seus monges. O maior representante da vida intelectual desse período foi Beda, o Venerável, um monge anglo-saxão do mosteiro de Jarrow.
Da Inglaterra saíram numerosos missionários em direção à Germânia, onde se destacou o trabalho de São Bonifácio; este, mais tarde, organizaria a Igreja entre os francos.
No final do século VI, os lombardos (um povo germânico) invadiram o Norte da Itália. No século seguinte, expandiram seu domínio na região e, a partir de 752, passaram a ameaçar Roma, cujo governante de fato era o papa, na qualidade de bispo da cidade. Os francos, comandados por Pepino, o Breve, acorreram em socorro do pontífice. Pepino venceu os lombardos (756) e doou ao Papado os territórios que conquistara na Itáiia Central. Criou-se assim o Patrimônio de São Pedro (mais tarde Estados da Igreja), sobre o qual o papa possuía poder temporal.
As ligações com o Estado Franco em fase de ascensão fortaleceram o Papado, mas ao mesmo tempo colocaram- no na dependência dos Carolíngios. Carlos Magno, por exemplo, interveio freqüentemente na escolha dos bispos. Para a Igreja, essa relação teve um aspecto positivo, pois o Estado leigo passou a se interessar pela difusão da fé cristã entre os pagãos; mas teve também um lado negativo, porque submeteu o Papado a uma autoridade temporal e estimulou a investidura leiga (ato pelo qual uma autoridade não-eclesiástica, como um rei ou imperador, nomeava um bispo e o empossava no exercício de sua função eclesiástica). Em conseqüência, cresceu a prática da simonia (tráfico de coisas sagradas e cargos eclesiásticos) e do nicolaísmo (casamento ou concubinato de membros do clero).


3. A organização da Igreja

A evolução da organização eclesiástica e os progressos da evangelização na Europa (que ampliaram a área de influência do papa) são os fatores básicos para explicar a reação da Igreja contra a ingerência do poder temporal.
A Igreja foi organizada nos moldes de uma monarquia pontifícia (um dos títulos atribuídos ao papa era o de Sumo Pontífice). Os bispos, que a princípio eram eleitos pelos presbíteros e aprovados pela aclamação popular, passaram a ser escolhidos pelo papa. Para resolver questões que dissessem respeito à Igreja em outros países, o papa enviava representantes especiais, os legados pontifícios. No plano central, a Cúria Romana, dividida em vários departamentos, administrava o vasto império da Igreja. A cúpula da hierarquia eclesiástica integrava o Colégio dos Cardeais, que a partir de 1058 passaria a eleger o papa. As despesas da monarquia pontifícia eram cobertas com as rendas dos domínios papais, com a remessa de recursos por parte das dioceses e mosteiros, com os tributos pagos pelos Estados vassalos do Papado e com o dinheiro de São Pedro — contribuição voluntária dos fiéis, arrecadada em toda a Cristandade.
clero secular era formado pelos arcebispos (chefes das províncias eclesiásticas ou arquidioceses), pelosbispos (chefes das dioceses) e pelos padres comuns. Abaixo dos bispos e acima dos padres comuns havia os curas, que administravam as paróquias — igrejas locais, erigidas em aldeias ou em bairros de cidades maiores.
clero regular era formado por monges ou frades, os quais viviam em comunidade nos mosteiros ou conventos. Os mosteiros menores se subordinavam a um maior, dirigido por um abade. O clero regular compreendia numerosas ordens ou congregações, cada uma com sua regra (regulamento) específica. A primeira regra para monges na Europa foi elaborada por São Bento, fundador da ordem dos beneditinos.
No século X, teve início dentro do clero regular um movimento reformista e moralizador que deu origem àOrdem de Cluny. Esta pretendia, dando ela própria o exemplo, incentivar o clero regular a retomar os princípios fixados na regra de São Bento (castidade, pobreza, caridade, obediência, orações e trabalho). Foram os monges clunicenses que incitaram o Papado a afastar a perniciosa influência do poder temporal sobre a Igreja.
Mas os mosteiros de Cluny vieram a cair no mesmo desregramento dos demais, o que provocou o surgimento de novos movimentos reformistas. Estes, por sua vez, acabavam incidindo nas mesmas faltas, e então apareciam outras congregações imbuídas dos mesmos ideais. Uma das regras mais rigorosas foi a doscistercienses (ou Ordem de Cister), fundada por São Bernardo de Claraval.
No século XIII, ocorreu dentro do clero regular uma grande inovação: o surgimento das ordens mendicantes, assim chamadas porque pregavam a pobreza absoluta e viviam da caridade dos fiéis. Os franciscanosoriginaram de São Francisco de Assis, filho de pai abastado, mas que desfez de seus bens materiais para viver em total simplicidade (1210). Os dominicanos provêm de São Domingos, um nobre espanhol que fundou uma congregação dedicada à pregação junto aos fiéis, com o objetivo de fortalecê-los na fé católica (1215). Essas duas ordens produziram na Idade Média grandes pensadores, como o franciscano Rogério Bacon e o dominicano Tomás de Aquino.

A Guerra Santa liberou o comércio

Guerra Santa


No século XI, dentro do contexto histórico da expansão árabe, os muçulmanos conquistaram a cidade sagrada de Jerusalém. Diante dessa situação, o papa Urbano II convocou a Primeira Cruzada (1096), com o objetivo de expulsar os "infiéis" (árabes) da Terra Santa.  Essas batalhas, entre católicos e muçulmanos, ficou conhecida como Guerra Santa e duraram cerca de dois séculos, deixando milhares de mortos e um grande rastro de destruição. Ao mesmo tempo em que eram guerras marcadas por diferenças religiosas, também possuíam um forte caráter econômico. Muitos cavaleiros cruzados, ao retornarem para a Europa, saqueavam cidades árabes e vendiam produtos nas estradas, nas chamadas feiras e rotas de comércio. De certa forma, as Cruzadas contribuíram para o renascimento urbano e comercial a partir do século XIII. Após as Cruzadas, o Mar Mediterrâneo foi aberto para os contatos comerciais.


O que foi a Guerra Santa naquele determinado momento?

No momento em que o Papa Urbano chama os fiéis para as cruzadas, havia um interesse muito grande em terras. A nobreza já não tinha mais como dividir as terras. A Europa precisava de uma expansão. Ao mesmo tempo a Igreja precisava barrar o avanço do islamismo, pois ele avançava em passos largos sobre a Europa, pois já havia chegado à península Ibérica e tomado todo norte da África. Então, a idéia de você tomar a Terra Santa, onde Jesus nasceu e morreu, e que estava na mão de infiéis, explica o motivo religioso das cruzadas. Você tem um motivo religioso que é forte no momento das cruzadas. Mas existe também uma motivação econômica e uma motivação psicológica.
A Guerra Santa modificou a Europa profundamente, trazendo novos elementos que mudaram a vida das populações européias daquela época. A economia modificou-se radicalmente. Deixou de apenas produzir alimentos; conheceu novos produtos, aprendeu novos métodos de trabalho; e enriqueceu com novas indústrias.
Politicamente, as cruzadas selaram a ruína do Sistema Feudal. Antes de partir os senhores penhoraram suas terras aos camponeses. A liberação desses ficou mais fácil. Além disso, houve grande quantidade de gente que foi e não voltou.
Com as cruzadas, muitos camponeses puderam deixar os domínios senhoriais. O campo perdeu população, e as velhas cidades receberam uma boa parte desses camponeses que deixaram os domínios senhoriais.
Engolindo a derrota sofrida, os cristãos tinham todos os motivos para odiar os árabes. Mas esta raiva sentida vinha junto com a admiração e a inveja sentida diante de um inimigo sofisticado, que possuía muitos conhecimentos que para os europeus eram desconhecidos.
A Guerra Santa não alcançou sua meta principal, que era garantir o domínio cristão de Jerusalém. Em compensação, o encontro entre as duas culturas fecundou a Europa. A maravilhosa porta do Oriente foi aberta e os árabes transmitiram uma porção de novidades aos ocidentais.
Imagine a sensação que um cruzado causava quando voltava para sua terra. Além de histórias sobre suas aventuras militares, trazia presentes sensacionais comprados de mercadores árabes. Produtos lindos, que vinham de lugares em que nenhum outro europeu jamais tinha pisado. Tapetes persas, pimentas, açúcar, cravo e canela da índia, porcelana chinesa, seda do Japão, tecidos, perfumes exóticos, pérolas...
Não é difícil concluir que essas cruzadas despertaram o comércio ativo entre europeus e os árabes. O Mar Mediterrâneo voltou a ser atravessado por navios abarrotados de mercadorias. Os lugares que mais cresceram com isso foram às cidades italianas, especialmente Gênova e Veneza. A espada dava lugar ao lucro. Só não se sabe qual arrancou mais sangue.


A Guerra Santa ajudou a expandir as atividades comerciais

Oos cruzados não eram os únicos a irem as expedições cruzadistas, os viajantes mercadores iam juntos, e assim serviam como abastecedores dos peregrinos com seus produtos.
Os cruzados voltavam para suas terras de origem com um gosto pelos novos luxos e confortos descobertos durante a viagem. As cidades italianas, principalmente Veneza e Gênova, ficaram imensamente ricas com o comércio desses produtos na Europa.
O grande desenvolvimento do comércio que as cruzadas propiciaram foi um dos fatores das profundas transformações que levaram do Modo de Produção Feudal ao Modo de Produção Capitalista na Europa durante os séculos seguintes; em outras palavras, aquelas grandes expedições de caráter primordialmente ou alegadamente religioso prepararam o fim da Idade Média e o início da Idade Moderna.
Em muitos outros aspectos a Guerra Santa foi um desastre! Os cruzados não conseguiram expulsar definitivamente os muçulmanos E isso durou por séculos, chegando até os nossos dias.
Texto escrito pela Professora Patrícia Barboza da Silva licenciada pela Fundação Universidade Federal do Rio Grande – FURG.
Referências Bibliográficas:
FERREIRA, José Roberto Martins, História. São Paulo: FTD; 1997.
MORAES, José Geraldo. Caminho das Civilizações. São Paulo: Atual. 1994.

A formação dos reinos bárbaros


1. Os reinos bárbaros
A história política da Europa na Alta Idade Média é caracterizada, no Oriente, pelas expansões e contrações do Império Bizantino (Império Romano do Oriente) e do Império Árabe (Islão). No Ocidente, é a história dosReinos bárbaros de origem germânica, formados a partir do século V dentro dos limites do antigo Império Romano do Ocidente.
Os vândalos se fixaram no Norte da África (Tunísia e Argélia atuais), sob a liderança de Genserico. Esse reino foi absorvido pelo Império Bizantino em meados do século VI, durante a Reconquista de Justiniano. No século seguinte, a região passaria para o controle dos muçulmanos.
Os ostrogodos, estabelecidos na Península Itálica, procuraram conservar as tradições romanas sob seu rei Teodorico; mas a conquista da Itália pelo Império Bizantino pôs fim à monarquia ostrogótica. Em seu lugar foi instalada uma administração bizantina na Itália, com capital em Ravena (Exarcado de Ravena). Entretanto, mal se completara a ocupação bizantina, os lombardos (outro povo germânico) invadiram o Norte da Itália, fixando sua capital em Pavia.
Os visigodos, que dominavam a Espanha e todo o Sul da Gália, foram expulsos desta última pelos francos. Em 711, os mouros (árabes do Norte da África) começaram a conquista da Península Ibérica, onde fundaram o Califado de Córdoba sob Abder-Rahman. Os visigodos recuaram para o norte, onde mantiveram um Estado independente sob o nome de Reino das Astúrias.
A Britânia foi ocupada por três povos germânicos. Os jutos instalaram-se no sul e fundaram o Reino de Kent. Os saxões também se fixaram no sul, dando origem aos Reinos de Essex, Wessex e Sussex. Os anglosestabeleceram-se no centro e nordeste do país, onde criaram os Reinos de East Anglia, NortCimbria, Bernícia e Deira (os dois últimos reunidos mais tarde, formando o Reino da Mércia). Esse conjunto de sete monarquias constituía à Heptarquia Anglo-Saxônica. Da unificação desses pequenos Estados, completada em 902, iria surgir a Inglaterra.
2. O Reino Franco e o Império Carolíngio
Os Merovíngios (481-751)
Clóvis, neto de um chefe tribal chamado Meroveu, foi o primeiro rei dos francos (481-511), fundador daDinastia dos Merovíngios. Sob sua liderança, os francos criaram o mais importante de todos os Reinos bárbaros.
Antes de Clóvis, as tribos francas formavam dois grandes grupos: os francos sálios, junto ao Canal da Mancha, e os francos ripuários, localizados mais para o interior. Depois de assumir a chefia dos francos sálios, Clóvis incorporou os francos ripuários. Em seguida, conquistou o reino de Siágrio, general romano que fundara um Estado próprio no oeste da Gália. Em 496, bateu os alamanos do leste da Galia na Batalha de Tolbiac — ocasião em que se converteu ao cristianismo — e, com a ajuda dos borgúndios, impeliu os visigodos para trás dos Pireneus. Mais tarde, voltar-se-ia contra os próprios borgúndios e anexaria seu reino, localizado no sudoeste da Gália.
O batismo de Clóvis foi realizado em Reims, juntamente com 3.000 de seus guerreiros. Essa cerimônia religiosa trazia embutido um importante significado político: a maioria da população da Gália (galo-romanos) era cristã, e Clóvis compreendera que somente convertendo-se ao cristianismo obteria sua adesão. Assim, a Igreja tomou-se aliada na expansão do poder de Clóvis — poder que começou a sair da simples aclamação dos guerreiros para a ratificação pelo poder religioso.
Ademais, visigodos e borgúndios haviam adotado o arianismo — uma heresia condenada pela Igreja. Por essa razão, as guerras de Clóvis para unificar a Gália contaram com o apoio do próprio Papado, interessado na supressão daquela heresia.
As divisões do Reino dos Francos (511-687)
Com a morte de Clóvis, em 511, o Reino dos Francos foi dividido em quatro partes, de acordo com o costume germânico de repartir as propriedades do falecido entre seus filhos varões, sem levar em conta a primogenitura. A partilha enfraqueceu a monarquia franca, uma vez que os herdeiros passaram a lutar entre si. Seguiram-se unificações parciais e novas divisões, com os Merovíngios se digladiando constantemente.
A Gália permaneceu dividida durante um longo período, excetuando-se o reinado de Dagoberto I, que conseguiu governar sozinho de 629 a 639. Os Estados francos mais importantes eram a Austrásia e a Nêustria.
Os prefeitos do palácio (640-751)
Após a morte de Dagoberto, o poder dos Merovíngios entrou em declínio. Os soberanos desse período, tanto da Nêustria como da Austrásia, praticamente deixaram de governar, delegando sua autoridade a um alto funcionário: o prefeito do paço (palácio) ou major domus. Os prefeitos assumiram o poder de fato e marginalizaram os reis - conhecidos desde então como reis indolentes.
Na Austrásia, Pepino de Héristal conseguiu que o cargo de major domus se tomasse hereditário. Em 687, ele venceu em batalha o major domus da Nêustria, estabelecendo uma união de fato entre os dois Reinos. Seu filho, Carlos Martelo (ou Martel), em 721 unificou definitivamente os Reinos da Austrásia e da Nêustria, impondo-lhes um monarca único e constituindo a entidade geopolítica que ficaria conhecida pelo nome de França. Carlos ganhou o apelido de Martelo depois de esmagar os árabes em Poitiers (732), detendo o avanço do Islão sobre a Europa.
Com a morte de Carlos Martelo, em 740, tornou-se prefeito do paço seu filho Pepino, o Breve. Em 751, contando com a aprovação papal, Pepino internou o último Merovíngio em um convento e se fez aclamar rei dos francos em Soissons. A coroação foi realizada pelo papa Estêvão II, para enfatizar a origem divina do poder real.
Em retribuição ao apoio do pontífice, Pepino comandou uma expedição à Itália contra os lombardos, que ameaçavam Roma e o Papado. As terras tomadas aos lombardos foram doadas por Pepino à Igreja, formando o Patrimônio de São Pedro — núcleo dos futuros Estados da Igreja.
O Império Carolíngio (800-843)
Quando Pepino faleceu, em 768, o trono foi compartilhado por seus filhos Carlos (mais tarde Carlos Magno) e Carlomano. Este morreu três anos depois, e Carlos passou a reinar sozinho.
Carlos Magno foi o mais guerreiro dos governantes cristãos da Alta Idade Média. Sob o pretexto de expandir a fé cristã, levou a guerra aos muçulmanos da Espanha e aos pagãos da Germffitia. Na Itália, reabriu a luta contra os lombardos, submetendo-os e tomando-lhes a Coroa de Ferro (coroa contendo um aro interno de ferro que, segundo a tradição, fora fundido com um dos cravos que crucificaram Jesus). O território dos lombardos foi incorporado aos domínios de Carlos, com o nome de Reino da Itália — localizado entre os Alpes e o Patrimônio de São Pedro (este último foi confirmado como domínio pontifício). Na Península Ibérica, o soberano franco ocupou uma larga faixa de terra além Pireneus, ali criando a Marca da Espanha.
A mais violenta guerra de conquista e conversão foi conduzida contra os saxões da Germânia. Tribos inteiras foram aniquiladas; mas Carlos conseguiu estender sua autoridade a uma vasta região, correspondente aproximadamente à Alemanha, Áustria e República Checa atuais.
Como fizera na Espanha, o soberano franco criou na Germânia algumas marcas (áreas de fronteira sob a administração civil e militar de um marquês), destinadas a conter os ataques dos povos da Europa Oriental. Uma delas, estabelecida junto ao Rio Danúbio, daria origem à Áustria.
As conquistas de Carlos Magno expandiram o cristianismo e ampliaram a área de influência da Igreja. Grato ao monarca franco, o papa Leão III coroou-o em Roma, no Natal de 800, com o título de imperador dos romanos, sucessor de Constantino. Formalmente, renascia o Império Romano do Ocidente, desaparecido em 476. Mas o novo Estado, cujos limites não coincidiam com os de seu predecessor, ficaria conhecido historicamente pelo nome de Império Carolíngio.
Os domínios de Carlos Magno tinham como centro de governo o palácio imperial. Nele residiam os altos funcionários, escolhidos pelo imperador e demissíveis a sua vontade: o conde palatino era o chefe da administração; o arquicapelão tratava dos assuntos eclesiásticos; o chanceler, da legislação e das relações exteriores; o camareiro guardava a câmara do tesouro; o senescal cuidava do abastecimento; finalmente, o condestável organizava as forças militares.
O Império foi dividido em condados — circunscrições administrativas governadas pelos condes e, na sua ausência, pelos vice-condes (viscondes). As fronteiras terrestres estavam divididas em marcas, governadas pelos marqueses. Inspetores imperiais denominados missi dominici circulavam pelo Império, fiscalizando a atuação não só dos condes e marqueses, mas também dos bispos.
Nas Assembléias de Maio, todos os grandes do Império, leigos e eclesiásticos, reuniam-se para relatar o de suas administrações, discutir os problemas existentes e tomar deliberações - cabendo a decisão final sempre ao imperador (rei antes de 800). Eram redigidas,  então, as capitulares, leis que evidenciavam o renascimento do poder do Estado.
Surpreendentemente para um monarca guerreiro e com raízes culturais germânicas, Carlos Magno incentivou as atividades intelectuais. Em seu governo ocorreu um efêmero florescimento cultural, que a História chamaria de Renascimento Carolíngio. Algumas escolas foram abertas, para ensinar os filhos dos nobres a ler e escrever; seu modelo era a Escola Palatina, instalada no próprio palácio imperial. Religiosos com grande prestígio intelectual — como o saxão AIcuíno, o franco Eginhardo e o lombardo Paulo Diácono — foram convidados a lecionar e também se incumbiram da produção literária do período.
O fim do Império Carolíngio
Luís, o Piedoso, filho e sucessor de Carlos Magno, faleceu em 840. Sua morte marca o início da desintegração do Império, pois o trono foi disputado por seus filhos: Lotrio, o mais velho e herdeiro legal do Império, Luís e Carlos.
Em 843, pelo Tratado de Verdun, o Império Carolíngio foi desmembrado: a França Ocidental ficou para Carlos, o Calvo; a França Oriental, para Luís, o Germânico; Lotário, embora reconhecido como imperador e suserano dos irmãos, recebeu um extenso mas estreito território, que compreendia a Itália Setentrional e depois se estendia até ao Mar do Norte, acompanhando o Vale do Reno. À falta de uma denominação preexistente, Estado incongruente recebeu o nome de Lotaríngia (restrito mais tarde à faixa situada ao norte dos Alpes).
A Lotaríngia subsistiria por pouco tempo. Lotário foi sucedido por seu filho Lotário II (855-869), que recebeu apenas o título de rei da Lotaríngia. Após a morte de Lotário II, seus tios Luís e Carlos dividiram entre si o território ao norte dos Alpes, ficando a Itália Setentrional como um reino independente. Quanto ao título de imperador, foi concedido pelos papas a diversos membros da família dos Carolíngios, sem obedecer a uma linha sucessória regular. O último imperador titular foi Berenguer, que também ostentava o título de rei da Itália e morreu em 924. A essa altura, a dignidade imperial perdera totalmente seu prestígio.
As duas partes remanescentes do Império Carolíngio, França Ocidental e França Oriental, dariam origem a dois grandes Estados europeus: França Alemanha. Na França Ocidental (ou seja, a França propriamente dita), o poder dos grandes senhores (condes) fortaleceu-se a tal ponto que um deles, Roberto, o Forte, chegou a assumir o trono, com a aprovação de seus pares. Em 987, quando o último Carolíngio francês morreu sem herdeiros diretos, a nobreza aclamou rei o conde de Paris, Hugo Capeto, fundador da Dinastia dos Capetíngios.
Na França Oriental (ou Germânia), o poder dos duques (chefes dos grandes territórios) era muito grande. Em 911, quando o último Carolíngio germânico faleceu sem deixar sucessor, os duques decidiram fundar o Reino da Germânia, que seria uma monarquia eletiva e não hereditária. O primeiro rei foi Conrado, duque da Francônia, eleito pelos duques da Baviera, Suábia e Saxônia.
Henrique, o Passarinheiro, duque da Saxônia, sucedeu a Conrado em 916. Suas campanhas militares contra húngaros e eslavos tiveram o poder de criar uma certa unidade nacional entre as populações da Germânia, prenunciando a formação da futura Alemanha., Foi sucedido por seu filho Oto I, com a concordância dos outros duques. Em 962, Oto recebeu do papa João XII o título de imperador, dando início ao Sacro Império Romano-Germânico. Esse Estado, considerado sucessor do Império Carolíngio e do Império Romano do Ocidente, sobreviveria por mais de oito séculos, até ser extinto por Napoleão em 1806.

A Formação das Monarquias Nacionais


Monarquias Nacionais da França

A história política da Baixa Idade Média está ligada à evolução das monarquias francesa, inglesa e alemã, bem como às relações entre elas e o Papado.
Na França, os reis da Dinastia dos Capetíngios, que ascendera ao trono em 987, a princípio não impuseram uma autoridade forte sobre seus vassalos. Em 1066, um grande senhor francês, Guilherme, o Conquistador, duque da Normandia, apoderou-se da coroa da Inglaterra, depois de vencer o rei anglo-saxão Haroldo II. Esse acontecimento criou um paradoxo dentro da hierarquia feudal. Como rei da Inglaterra, Guilherme tornou-se suserano dos senhores ingleses. Mas, na qualidade de duque da Normandia, continuava a ser vassalo do rei da França.
A situação ficou ainda mais complicada com a ascensão ao trono inglês de Henrique II, um parente de Guilherme que era o maior senhor feudal da França.

Felipe Augusto - Monarca Francês

O fortalecimento da autoridade real e a reação contra o poder inglês na França começaram com Felipe Augusto (1180-1223). Esse soberano incorporou aos domínios reais (territórios sob a autoridade direta do rei, sem a interposição de senhores feudais) grande parte dos feudos franceses possuídos pelos reis da Inglaterra. Essas anexações foram consolidadas pela Batalha de Bouvines (1214), na qual Felipe Augusto obteve uma vitória decisiva sobre o rei inglês João Sem Terra e seu aliado, o imperador germânico Oto IV.
Felipe Augusto realizou uma importante obra administrativa e criou os bailios reais — funcionários que cobravam impostos e distribuíam a justiça. Aliás, o termo bailio já era aplicado, em certas regiões da Europa, aos agentes dos senhores feudais que exerciam aquelas funções.
Luís IX (1226-1270), mais tarde canonizado, organizou a justiça real e instituiu o direito de apelação ao tribunal do rei, por parte daqueles que fossem condenados em um tribunal feudal. Felipe IV, o Belo (1285-1314), continuou a expandir os domínios reais e reforçou suas finanças ao confiscar os bens da ordem religiosa e militar dos Templários.
Seguindo conselhos de seus legistas (especialistas em leis que teorizavam sobre o poder e os direitos reais), Felipe entrou em choque com o Papado, opondo-se à supremacia do poder espiritual sobre o temporal. Excomungado pelo papa Bonifácio VIII, mandou tropas à Itália para prendê-lo. Após a morte de Bonifácio, os cardeais elegeram Clemente V, um papa francês ligado a Felipe e que, em 1309, mudou a sede do Papado para a cidade francesa de Avignon — situação que perduraria até 1378 e ficaria conhecida pelo nome de Cativeiro de Avignon.
Os filhos de Felipe, o Belo, se sucederam no trono até 1328, sem deixar herdeiros varões. Quando o último deles faleceu, a coroa passou para um sobrinho de Felipe, o Belo, que iniciou a Dinastia de Valois com o nome de Felipe VI.


Monarquias Nacionais da Inglaterra

Henrique II (1154-1189) governou com mão forte, impondo-se aos barões (designação genérica dos grandes senhores ingleses; nos outros países, o título de barão fazia parte da pequena nobreza, situando-se abaixo de visconde e acima de cavaleiro). Tentou controlar a Igreja na Inglaterra, procurando submetê-la aos tribunais reais; mas encontrou a firme oposição do arcebispo de Canterbury, Thomas Becket, que por isso foi assassinado. O papa reagiu lançando um interdito sobre a Inglaterra e Henrique recuou, humilhando-se em uma cerimônia pública diante do túmulo de Becket.
Ricardo Coração de Leão - Monarca InglêsRicardo Coração de Leão (1189-1199) preocupou-se mais com a Terceira Cruzada do que com as questões político-administrativas. Foi sucedido por seu irmão João Sem Terra (1199-1216), um governante inábil, cuja tentativa de dispor dos cargos eclesiásticos na Inglaterra fracassou. Entrou em choque com o papa Inocêncio III, que o excomungou e transferiu a coroa inglesa para o rei da França, Felipe Augusto. Quando Felipe se aprestava para invadir a Inglaterra, João Sem Terra submeteu-se ao pontífice.
A essa altura, Felipe Augusto já anexara a seus domínios vários feudos que os reis ingleses possuíam na França. Depois da Batalha de Bouvines, os barões ingleses se revoltaram e impuseram a João Sem Terra a Magna Carta (1215). Este documento importantíssimo assegurava aos senhores leigos e eclesiásticos diversos direitos, entre os quais sobressaíam dois: o rei ficava proibido de criar impostos e taxas, sem o consentimento do Grande Conselho do Reino (órgão formado por bispos e barões), e os nobres acusados de crimes seriam julgados por um júri de seus iguais.
O filho de João Sem Terra, Henrique III (1216-1272), recusou-se a respeitar a Magna Carta. Bispos e barões mais uma vez se rebelaram e o Grande Conselho do Reino, agora chamado de Parlamento, impôs ao rei as Provisões de Oxford (1258), que na prática colocavam o governo nas mãos da nobreza.
Anos depois, Henrique III tentou recuperar seu poder, mas foi vencido e caiu prisioneiro. Simon de Montfort (nobre anglo-francês, filho do vencedor dos hereges albigenses), líder dos barões, convocou então o Grande Parlamento (1265). Participavam dessa assembléia os prelados e barões e também, pela primeira vez, dois cavaleiros (membros da pequena nobreza) por condado e ainda representantes da burguesia. Esse foi o primeiro Parlamento com caráter verdadeiramente nacional que se reuniu na Inglaterra.
O Parlamento passou então a ser uma instituição convocada regularmente. Em 1350, ele se tornou bicameral, dividindo-se em Câmara dos Lordes, formada pelos membros do alto clero e da alta nobreza, eCâmara dos Comuns. A primeira era vitalícia e hereditária (exceto no caso dos bispos, por serem obrigados ao celibato clerical). Já a segunda, composta de cavaleiros e burgueses, era eletiva e seus membros tinham um mandato temporário. Começando como uma assembléia fiscalizadora e controladora do poder real, o Parlamento iria se transformar no órgão legislativo da Inglaterra.
Dessa forma, enquanto a França caminhava em direção ao absolutismo, a Inglaterra tendia a ser uma monarquia limitada, que no século XVIII se tornaria parlamentarista.


A evolução do Sacro Império

Estreitamente ligado ao Papado desde sua fundação, o Sacro Império Romano-Germânico exerceu uma certa tutela sobre os papas até à Questão das Investiduras. Depois que a Concordata de Worms (1122) encerrou o confronto, com vantagem para a autoridade papal, os conflitos entre o Império e o Papado passaram a girar em torno das pretensões de ambos ao domínio da Itália. Nesse novo contexto, o imperador que mais se empenhou contra a política papal foi Frederico II (1215-50).
Frederico, que reunia os títulos de imperador da Alemanha, rei de Nápoles, da Sicília e também de Jerusalém (este último, adquirido durante a Sexta Cruzada e apenas honorifico), pretendia restabelecer o controle imperial sobre os centros urbanos do Norte da Itália, que se haviam tornado praticamente independentes. Para conservar sua liberdade, essas cidades formaram contra Frederico a Liga Lombarda, apoiada pelo Papado. Outras, porém, temiam mais o poder papal que o imperial e se posicionaram a favor do monarca alemão. As comunidades ligadas ao papa contra o imperador formaram o partido dos güelfos, enquanto seus adversários ficaram conhecidos pelo nome de gibelinos.
A luta entre os dois grupos impediu que se implantasse uma autoridade forte na Itália e propiciou a multiplicação de pequenos Estados, às vezes não maiores que uma cidade.
Frederico II foi o último grande imperador da Dinastia de Hohenstaufen. Quando essa família se extinguiu, em 1268, o Sacro Império voltou a ser eletivo. Imperadores de famílias variadas sucederam-se no trono até 1437, quando os príncipes eleitores passaram a escolher exclusivamente membros da Dinastia de Habsburgo, originária da Áustria.

A Europa no tempo de Napoleão


A Europa viveu um período de grande intranquilidade após a Revolução Francesa. De um lado, a burguesia francesa não tinha paz com as constantes ameaças de monarquistas e revolucionários radicais (jacobinos). Ela precisava de um grande líder que consolidasse a revolução burguesa no país. Terminou escolhendoNapoleão Bonaparte, que se tornaria um dos personagens mais controvertidos da história ocidental. Do outro lado, as monarquias tradicionais européias temiam o avanço dos ideais revolucionários em seus países. Acabaram se aliando para lutar contra o expansionismo francês. Era a reação conservadora para manter o Antigo Regime.
Napoleão Bonaparte
Napoleão Bonaparte


A Ascensão

Napoleão havia nascido na Ilha de Córsega e seguira carreira militar. Ao iniciar a revolução, ele adere prontamente como partidário dos Jacobinos, se destaca nas ações militares em Toulon e graças à sua brilhante atuação é nomeado general-de-brigada com apenas 24 anos. Se internamente o Diretório enfrentou uma situação de problemas insolúveis, buscou externamente, nas guerras, levantar ânimo e finanças.
Napoleão foi, então, indicado para liderar as tropas francesas contra os austríacos no norte da Itália, entre 1796 e 1797, onde após seguidas vitórias assinou o Tratado de Campo Fórmio, dando à França o domínio sobre a Bélgica e a margem esquerda do Reno.
Após tal sucesso, Napoleão concebe um plano de expansão que visava combater a Inglaterra através da conquista do Egito, ponto de ligação comercial dos britânicos com o Oriente.
Contando com 467 navios e 40.000 soldados, entre 1798 e 1799, enfrentou e venceu exércitos egípcios, turcos e ingleses, embora tenha perdido a frota naval em Abukir, quando a marinha inglesa, sob o comando de Nelson, saiu-se vitoriosa. Napoleão deixou seu exército no Egito e voltou para a França, onde o Diretório enfrentava dificuldades.
O Diretório estava pressionado pelas disputas políticas, onde por um lado eram atacados pelos monarquistas que pretendiam a volta ao antigo regime e, por outro, os Jacobinos queriam a volta ao regime da Convenção.
Essas dificuldades políticas aliada à crise financeira e á corrupção e incompetência dos Diretórios, levam a alta burguesia a articular um golpe de estado visando estabelecer um governo forte que desse estabilidade ao país. Com o apoio de Napoleão, alguns membros do Diretório executam esse golpe em 9 de novembro ( 18 Brumário no calendário revolucionário ) conhecido como Consulado.


O Consulado ( 1799-1804 )

Apesar de aparentemente ser uma república democrática, o governo passou a ser exercido despoticamente por Napoleão, como uma monarquia militar.
Napoleão sabia que para se manter no poder, precisava contar com o apoio tanto da alta como da pequena burguesia. Para isso, procurou garantir a segurança interna e a paz externa.
No plano externo, derrota novamente os austríacos e assina a paz de Amiens com os ingleses.
Internamente, toma várias medidas para reorganizar a administração do Estado e estabelecer a paz adotando uma política de conciliação; aperfeicoou a arrecadação dos impostos e criou o Banco da França com um grupo de banqueiros, melhorando sensivelmente a situação econômica; reorganizou o ensino e estabeleceu a paz com a Igreja Católica através da Concordata ( o papa reconhecia a perda dos bens eclesiástico e, em troca, o Estado não interferiria com os cultos religiosos ), e criou o Código Civil, que foi uma compilação sistemática de leis, cujo objetivo principal era assegurar à burguesia o usufruto da propriedade.
O êxito da política interna e externa dão uma grande popularidade a Napoleão, que recebe, em 1802, o direito de indicar seu sucessor: era, de fato, o estabelecimento de uma monarquia hereditária.
Em 1804, com total apoio da burguesia, faz realizar um plebiscito que lhe confere o título de imperador.


O Império Napoleônico ( 1804-1814 )

Império Napoleônico

O Império Napoleônico foi, para a França e a Europa, um período de guerras constantes, tanto pela ambição francesa que buscava ampliar suas fronteiras, quanto pela identificação, por parte dos demais países europeus, do governo de Bonaparte, com o triunfo das idéias revolucionárias.
Em dezembro de 1804, Napoleão é coroado( o fato curioso foi que, quem iria colocar a coroa na cabeça de Napoleão, era o papa, e na hora em que o papa o iria coroar, ele tirou a coroa da mão do papa e ele próprio colocou a coroa em sua cabeça, foi sem dúvida uma agressão ao papa e uma forma de Napoleão mostrar seu poder ao clero ). Restaurava-se a monarquia sob a forma de império autoritário, com uma nova corte, formada e criada por uma nobreza imperial, com os títulos tradicionais.
O governo tornou-se despótico, desrespeitando as liberdades individuais e políticos, embora o Império desse à França uma prosperidade que lhe valeu o apoio de todas as classes da população.
As reformas econômicas continuavam. O Estado intervinha na economia associado à burguesia, enquanto a agricultura e a indústria recebiam programas de desenvolvimento. A estabilidade interna garantia a paz necessária ao desenvolvimento material, concretizando a aliança do governo com a burguesia.
Externamente, desde 1803, houve o reínicio da guerra contra a Inglaterra, que contava com o apoio dos reis absolutistas, que viam em Napoleão a continuação dos ideais da Revolução Francesa e temiam que estes ideais se infiltrassem através de suas fronteiras.
A Inglaterra, apesar de ser uma nação liberal, via na prosperidade do capitalismo francês uma ameaça na disputa de mercados comerciais para os produtos de sua Revolução Industrial.
Em 1805, a Inglaterra, Àustria e Russia se unem na terceira Coligação contra a França. Os ingleses vencem no mar, em Trafalgar, mas os austro-russos são derrotados em terra na batalha de Austerlitz.
Para enfraquecer a economia inglesa, Napoleão decreta o Bloqueio Continental, obrigando todos os países europeus a fecharem seus portos ao comércio inglês ( é nesse ponto da história que a família real portuguesa tem que fugir para o Brasil, devido ao furo no Bloqueio Continental ). Nessa época, praticamente toda a Europa estava sob o domínio ou influência de Napoleão: seu exército, bem organizado e numeroso, perecia invencível.
Em 1812, a Rússia, que dependia do comércio inglês, rompe o bloqueio decretado por Napoleão que, em represália, acaba invadindo-a.
A Campanha da Rússia acabaria sendo um desastre para o exército napoleônico( 95 % do seus soldados morreram de fome e frio ). Após uma uma fácil penetração em território russo, os franceses são dizimados pelo rigoroso inverno, tendo que bater em retirada fustigados pela reação do exército russo ( os russo incendiavam as próprias cidades para que, quando o exército francês chegasse não tivesse nem água, alimentos e roupas )
Incentivados por essa derrota, a Prússia e a Áustria se unem à Rússia, vencendo Napoleão em Leipzig ( 1813 ). Em seguida, invadem a França e abrigam Napoleão e renunciar se retirando para a pequena Ilha de Elba.


Governo dos Cem Dias

A dinastia dos Bourbons é restaurada, subindo ao trono Luís XVIII, irmão do rei guilhotinado durante a revolução, mas , diante da insatisfação popular, Napoleão tenta retomar o poder: foge da Ilha de Elba e volta a Paris ovacionado pelo povo.
Inicia-se então, um período conhecido como " Governo dos Cem Dias ". Tenta reorganizar o exército, mas, é definitivamente derrotado na Batalha de Waterloo ( 1815 ) por ingleses e prussianos. O rei Luís XVIII, que havia fugido, volta ao trono.
Napoleão é considerado prisioneiro de guerra e é enviado para a Ilha de Santa Helena, onde morre, em 1821.


O Congresso de Viena

Os países europeus se reuniram, após a deposição de Napoleão, em Viena para reorganizar politicamente o continente europeu.
Embora todos os países da Europa fossem convidados para este congresso, as decisões ocorreram entre as quatro potências da época: Inglaterra, Rússia, Áustria e Prússia.
O Princípio da Legitimidade, proposto por Talleyrand, representante francês e ex-acessor de Napoleão, orientou as decisões que restabeleceram as fronteiras anteriores à Revolução Francesa, restaurando as monarquias absolutistas.
Temerosos de que os ideais revolucionários franceses retornassem na Europa, os reis absolutistas organizaram um instrumento de intervenção contra movimentos revolucionários ou separatistas; a Santa Aliança, formada inicialmente pela Rússia, Áustria e Prússia, tinha o objetivo de manter a ordem estabelecida contra qualquer manifestação revolucionária.
O presidente norte-americano, James Monroe, temeroso de que a Santa Aliança intervisse nos processos de independência na América lançou, em 1823, o preceito conhecido como Doutrina Monroe, que considerava ato de agressão aos Estados Unidos qualquer tentativa de interferência européia em assuntos políticos americanos, sintetizada na frase " A América para os americanos "

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