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13 de mar. de 2012

A Formação da Classe Operária Inglesa


Fichamento do Livro: A Formação da Classe Operária Inglesa

Capa do Livro
A  obra de Thompson se completa com a publicação do seu terceiro volume, A Formação da Classe Operária Inglesa conta com ótima qualidade editorial, e possui excelência em sua tradução considerando o tom narrativo e o material da pesquisa, registros populares do período entre 1790 e 1832 na Inglaterra;
É um clássico dos movimentos trabalhadores. A obra que melhor reconstitui o movimento histórico decisivo da transição da sociedade inglesa para o capitalismo industrial na ática dos estratos inferiores dessa sociedade. Thompson estuda o contexto da vida dos trabalhadores, suas inquietações, aspirações, ritos e símbolos coletivos, num ambiente hostil ao reconhecimento de suas identidades sociais e culturais fundadas na tradição da sociedade inglesa daquele período;
A familiaridade intelectual e o envolvimento emocional de Thompson com os protagonistas propiciaram uma narrativa expressiva da época. Essa característica a destaca entre os clássicos, através do olhar astuto dos micro-processos sociais que compõe o quadro descritivo dos seus cenários históricos;
O texto emerge num cenário acadêmico dominado por paradigmas estruturais, quase nada mencionando o papel das pessoas e suas relações na construção da realidade histórica. Em contraposição, Thompson inscreve-se na tradição metodológica da sociedade interpretativa com ênfase no papel ativo dos atores sociais na construção de suas identidades, interesses e ações coletivas;
Conforme Thompson, as três partes que compõe A Formação da Classe Operária Inglesa tem a seguinte estrutura: na primeira parte ele trata das tradições populares do século XVIII, que influenciaram a aceitação jacobina no ano de 1790. Na parte dois ele passa para as influências objetivas, as experiências dos grupos de trabalhadores durante a Revolução Industrial. Na terceira parte remonta a história do radicalismo plebeu, através do ludismo, até a época final das guerras napoleônicas. Finalmente, Thompson discute aspectos teóricos e da consciência de classe nos anos 1820 e 1830;
tese fundamental do livro é de que entre 1790 e 1832 na Inglaterra, ocorreu a transformação de grupos heterogêneos de trabalhadores em uma classe operária com identidade própria e efetiva consciência de classe, no sentido marxista do termo, que continuou sua trajetória nos anos subseqüentes;
Thompson salienta que o fator crucial não foram as condições objetivas externas ou estruturais do capitalismo industrial, mas a própria experiência e ação coletiva dos grupos de trabalhadores em oposição as classes superiores da sociedade inglesa;
A identidade de classe que os trabalhadores ingleses vieram a experimentar foi penosamente construída a partir de bases fundamentais da tradição da sociedade inglesa, ou seja, a economia moral e o ideal do “inglês livre por nascimento”, herdado do acordo da Revolução de 1688, encarnado na Constituição do Rei, Lordes e Comuns. Essa tradição assegurava espaço para as manifestações e direitos para ambos: senhores e súditos;
A contraposição a esta expressão popular contra especuladores do mercado de alimentos se deu pelo Metodismo de John Wesley, constituindo um traço autoritário e preocupação extremada com a ordem instituída, um mecanismo eficaz de controle social e político;
Embora Thompson admita que os Metodistas Primitivos criaram espaço organizacional e ideológico para o radicalismo político, de modo geral, a expansão Metodista durante as guerras foi um componente do processo psíquico da contra-revolução. Transpor 1832 para 1833 é entrar num mundo onde a presença operária pode ser sentida em todos os condados da Inglaterra e na maioria dos âmbitos da vida, sendo que a identidade da classe operária encontra-se em estágio maduro;
No decorrer de A Formação da Classe Operária Inglesa encontramos a rica descrição que Thompson faz enfatizando as distinções, especificidades e diferenças no modo de vida dos que compunham o quadro contextual dos trabalhadores da época. Apesar de toda a diferença, eram todos pertencentes a classes inferiores, era essa a visão de seus superiores;
O sistema de solidariedade era em primeiro plano de natureza comunal. Num segundo momento baseia-se no interesse de ganhos, num contexto de economia de mercado, com relações de exploração capital-trabalho suficientes para servirem de divisor de classes;
No período focado por Thompson, os interesses voltavam-se para a defesa dos direitos e deveres relacionados a economia moral e ao ideal constitucionalista do ‘inglês livre’. Já se esboçavam as primeiras manifestações do mundo industrial da fábrica, na relação clássica de exploração da Revolução Industrial despersonalizada, pois não admite as antigas obrigações de paternalismo ou deferência, ou ainda os interesses de profissão;
Nesse momento não há preço justo, salário justificado em relação as sanções sociais ou morais, como algo oposto a livre atuação das forças de mercado. O trabalhador tornou-se um instrumento, uma cifra entre outras no custo. A solidariedade de classe, a identidade de interesses produzida pela exploração entre capital e trabalho foram a base da união;
Muitas idéias do operariado industrial foram antecipadas por trabalhadores domésticos em muitas cidades, de onde o núcleo do movimento trabalhista retirou suas idéias, organização e liderança. Thompson vê nisso evidência de continuidade da cultura de classe integrando as experiências dos trabalhadores do inicio do século e os operários industriais;
Thompson enfatiza e reconhece a distinção entre interesses e valores de trabalhadores independentes e trabalhadores fabris. Na segunda década do século XIX, devido a inconsistência dos valores que lhe serviam de base, ocorre uma hostilidade frente ao sistema fabril que nada tinha a dizer sobre a reforma fabril ou questões sociais, de um modo geral;
Mais adiante origina-se a ideologia da ‘independência’ econômica e do individualismo político inflexível, que não se afinava com a experiência dos trabalhadores fabris, tendo o principal canal na própria organização sindical. A ideologia cabia como luva aos tecelões que compartilhavam a aversão ao barulho e opressão das fábricas, de sua suspeita contra Londres, de sua preferência pelo argumento moral, em vez da pragmática, da sua nostalgia por valores rurais em desaparição;
A relativa prosperidade dos primeiros anos da Revolução Industrial levara a uma ascensão nos valores não só materiais, mas também culturais. Os trabalhadores manuais ganhavam força em seus protestos com a desintegração dos valores tradicionais, tendo o povo de diversas vilas resistido ao conflito entre individualismo econômico não planejado e um modo de vida mais antigo;
Mesmo o ‘cartismo’ no final da década de 1930, com sua feição moderna de movimento social e seu tom político, que marcou a entrada das classes trabalhadoras no cenário político da Inglaterra, estava longe de constituir uma expressão genuína de consciência de classe de um proletariado revolucionário;
Finalmente, ao concluir que de 1830 em diante houve amadurecimento uma consciência de classe, no sentido marxista tradicional, com a ciência entre os trabalhadores do prosseguimento por conta própria em lutas antigas e novas.

Em A Formação da Classe Operária Inglesa, Thompson não polemiza apenas com a propaganda dos vencedores, critica também as concepções marxistas sobre a classe operária que a transformaram no resultado da equação energia vapor mais sistema industrial, num mero fator de produção. É um clássico para a análise pelo Assistente Social, pois o autor descreve com detalhes a vida social inglesa, suas aspirações, a maneira como se agruparam em conquistas e como a sociedade se beneficiou das teorias revolucionárias. Podemos avaliar o espírito das mudanças para nos inspirar, pois temos uma luta árdua no Brasil. Não será fácil o processo de desconstrução da desigualdade tão profunda em nosso país.
Bibliografia:
THOMPSON, E.P. A formação da classe operária inglesa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 3 vols, tradução de Denise Bottman.
Por: Carlos Raimundo da Silva.

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