Subscribe:

29 de fev. de 2012

Dengue - Vetor


Dengue, doença infecciosa tropical e subtropical, caracterizada por febre e dor intensa nas articulações e músculos, inflamação dos gânglios linfáticos e erupção da pele. O agente causador é um vírus transmitido de pessoa a pessoa pelos mosquitos do gênero Aedes, principalmente o Aedes aegypti. Há quatro tipos de vírus causadores da dengue. O nome da doença se deve ao fato de que, ao atacar as articulações, faz o paciente mover-se com um andar requebrado ("dengoso" ou "cheio de dengues").
O mosquito se infecta ao picar uma pessoa contaminada e, após oito a 11 dias incubando o vírus, pode transmiti-lo a outra pessoa. A forma mais grave da doença é a dengue hemorrágica, que causa hemorragia gastrintestinal e das mucosas e pode provocar choque e até a morte. O vírus responsável pela forma hemorrágica chegou ao Brasil em meados da década de 1980, depois de ter provocado uma epidemia em Cuba.
A guerra e as migrações provocaram um aumento dos casos de leishmaniose visceral. O comportamento humano está associado à explosão das doenças sexualmente transmissíveis. O grande avanço nos transportes possibilita também maior intercâmbio de microorganismos e de seus transmissores, como os insetos que transmitem dengue e malária. A construção de represas vem sendo associada ao aumento de casos de esquistossomose e a surtos de febre do vale do Rift. O crescimento populacional, associado a um processo de urbanização descontrolada, contribuiu para a disseminação da dengue e da cólera. Alterações no clima parecem ter sido responsáveis por surtos de síndrome pulmonar por hantavírus.
Aedes aegypti, principal transmissor da dengue e da febre amarela urbana. Oriundo do Velho Mundo, esse mosquito acompanhou o homem em sua migração pelos continentes. Atualmente é considerado um mosquito cosmopolita, encontrado nas regiões tropicais e subtropicais, principalmente em locais de grande concentração humana.
No Brasil, o Aedes aegypti foi introduzido no período colonial e causou sérias epidemias de febre amarela urbana. Em 1955, foi erradicado do país. Contudo, como outros países do continente não tiveram a mesma preocupação, o mosquito foi reintroduzido em 1967, iniciando logo depois uma alarmante propagação da dengue. Hoje, ocorre nos estados litorâneos, no Centro-Oeste, em Minas Gerais e em Tocantins.
Febres hemorrágicas, grupo de doenças agudas, de origem viral. São as mais preocupantes moléstias emergentes, por provocarem extensas epidemias e apresentarem índices altos de mortalidade. As mais conhecidas no Brasil são a febre amarela, hoje restrita à sua forma silvestre, e a síndrome hemorrágica da dengue, ou dengue hemorrágica. Outras três famílias de vírus também causam essas doenças: arenavírus, bunyavírus e filovírus. Entre os primeiros, figuram os vírus Junin, Machupo e Sabiá, responsáveis pelas febres hemorrágicas argentina, boliviana e brasileira. Entre os segundos, destacam-se os hantavírus, que causam síndrome pulmonar e febre hemorrágica com síndrome renal, ambas já registradas no país. Dos filovírus, o mais conhecido é o Ebola, que provocou surtos na África.
O vetor do dengue
O dengue é transmitido pela fêmea do mosquito Aedes aegypti, que também é vetor da febre amarela. Qualquer epidemia das duas doenças está diretamente ligada à concentração do mosquito, ou seja, quanto mais desses insetos, mais elas se farão presentes.
O Ae. aegypti surgiu na África (provavelmente na região nordeste) e de lá espalhou-se para Ásia e Américas, principalmente através do tráfego marítimo. No Brasil, chegou no século XVIII com as embarcações que transportavam escravos, já que os ovos do mosquito podem resistir, sem estar em contato com a água, por até um ano.
Em 1955, uma grande campanha realizada pela Organização Pan-Americana de Saúde chegou a erradicar o Ae. aegypti do Brasil e de diversos outros países americanos. No entanto, a campanha não foi completa e o mosquito permaneceu presente em várias ilhas do Caribe, Guianas, Suriname, Venezuela e sul dos Estados Unidos, de onde voltou a espalhar-se. No fim da década de 70, o Brasil novamente contava com a presença do vetor em suas principais metrópoles.
Hoje em dia, considera-se a erradicação do Ae. aegypti praticamente impossível devido ao crescimento da população, ocupação desordenada do ambiente e à falta de infra-estrutura dos grandes centros urbanos. A industrialização também dificulta o enfrentamento desse tipo de inseto, já que os novos produtos descartáveis por ela produzidos (tais como copos e garrafas de plástico) são eliminados de forma incorreta e acabam por transformar-se em possíveis focos para a multiplicação do Ae. aegypti. Assim, o máximo que se pode fazer é controlar a presença do mosquito.
O Ae. aegypti tem se caracterizado como um inseto de comportamento estritamente urbano, sendo raro encontrar amostras de seus ovos ou larvas em reservatórios de água nas matas. Mesmo assim, macho e fêmea alimentam-se da seiva das plantas, presentes, sobretudo, no interior das casas, apesar de só ela picar o homem em busca de sangue para maturar os ovos. Em média, cada Ae. aegypti vive em torno de 30 dias e a fêmea chega a colocar entre 150 e 200 ovos de cada vez. Ela é capaz de realizar inúmeras posturas no decorrer de sua vida, já que copula com o macho uma única vez, armazenando os espermatozóides em suas espermatecas (reservatórios presentes dentro do aparelho reprodutor). Uma vez com o vírus da dengue, a fêmea torna-se vetor permanente da doença e calcula-se que haja uma probabilidade entre 30 e 40% de chances de suas crias já nascerem também infectadas.
Os ovos não são postos na água, e sim milímetros acima de sua superfície, em recipientes tais como latas e garrafas vazias, pneus, calhas, caixas d'água descobertas, pratos de vasos de plantas ou qualquer outro que possa armazenar água de chuva. Quando chove, o nível da água sobe, entra em contato com os ovos que eclodem em pouco mais de 30 minutos. Em um período que varia entre cinco e sete dias, a larva passa por quatro fases até dar origem a um novo mosquito.
Experiências demonstram que a melhor oportunidade para enfrentar o Ae. aegypti se dá na fase larval, pois o mosquito tem apresentado resistência aos inseticidas. A presença dos mosquitos depende muito das condições climáticas (mais chuvas, mais mosquitos) e de políticas públicas. Especialistas ainda consideram os guardas sanitários a melhor maneira de controlar a presença do Ae. aegypti, pois somente visitas periódicas feitas de casa em casa são eficientes para combater o mosquito e ensinar a população a enfrentar o inseto. Além disso, faz-se necessário um constante monitoramento de terrenos baldios, casas abandonadas e quaisquer outros logradouros que possam servir de possíveis focos para a procriação do vetor do dengue.
Perguntas mais freqüentes (respondidas por Anthony Guimarães):
1) Por que o DDT e a utilização de aviões e helicópteros (como já ocorreu nos EUA) é eficiente para outros mosquitos e ineficiente para combater o Ae. aegypti?
R: Nos EUA, e em outros lugares, o uso de aviões para pulverizar inseticida destina-se ao controle de insetos, inclusive mosquitos, que freqüentam rotineiramente ambientes extradomiciliares (fora das casas). O Ae. aegypti permanece quase que exclusivamente dentro das casas, onde inseticidas pulverizados de avião não atingem. Nos EUA o controle visava o transmissor da Febre do Nilo, um mosquito do gênero Culex e que não vive dentro das casas.
2) Qual o ambiente preferido pela fêmea. Em quais condições (temperatura, ventos) ela não sobrevive ou não se torna ativa? Onde elas são mais comumente encontradas?
R: As fêmeas e os machos (que geralmente acompanham as fêmeas) ficam dentro das casas (sob mesas, cadeiras, armários etc.). A temperatura ideal fica em torno dos 24 e 28 oC. Temperaturas acima dos 32 oC e abaixo dos 18 oC costumam inibir a atividade do Ae. aegypti e quando ficam acima dos 40 oC e abaixo dos 5 oC são letais.
3) Há possibilidade de outra espécie de Aedes transmitir dengue? Se existe, até aqui, o que impede isso de acontecer?
R: Sim. O Ae. albopictus também pode transmitir dengue. A transmissão não é comum porque o Ae. albopictus não costuma freqüentar o domicílio como o Ae. aegypti.
4) Das formas de prevenção (complexo B, borra de café, água sanitária, levedo de cerveja, vela de andiroba, repelentes, inseticida caseiro etc), quais são realmente eficientes?
R: Levedo de cerveja e complexo B não devem ser utilizados, pois, nas dosagens capazes de afugentar os mosquitos, podem ser prejudiciais à saúde. Borra de café pode ser eficiente dentro de uma rotina periódica a cada dois dias. Água Sanitária não tem se mostrado eficaz nas dosagens preconizadas (uma colher de chá para um litro d'água), em altas concentrações pode matar a larva em 24h. Vela de andiroba tem eficácia parcial e pode ser usada em ambientes fechados com no máximo 12 metros quadrados. Repelentes e inseticidas caseiros podem ser usados seguindo as recomendações da embalagem ou recomendação médica no caso de crianças e pessoas sensíveis.
5) Existe algum meio natural para combater o Ae. aegypti? Tais como vermes que parasitam as larvas, predadores naturais etc.
R: O mecanismo natural mais eficaz para o Ae. aegypti é o bioinseticida BTI (Bacillus thuringiensis israelensis), que ataca a larva do Ae. aegypti e pode ser utilizado em reservatórios domésticos, inclusive caixa d'água. Predadores naturais (larvas e ninfas de insetos, nematódeos, pequenos vertebrados), que também atacam as larvas de mosquitos, não se criam em reservatórios domésticos, onde estão as larvas do Ae. aegypti.
6) Até que ponto a utilização de venenos, como o DDT e os larvicidas podem afetar o meio ambiente? Quais (se existirem) seus efeitos colaterais?
R: Qualquer inseticida usado indiscriminadamente traz danos ao meio ambiente. O contato direto e permanente com produtos químicos pode ocasionar desequilíbrio ambiental e problemas a saúde do homem. Por esse motivo o uso desses inseticidas é restrito aos órgãos governamentais ou credenciados, que possuem equipes de técnicos capazes de eleger a dosagem e o inseticida a ser utilizado.
7) O vírus causa problemas ao mosquito?
R: Não.
8) Como é o ciclo do vírus dentro do mosquito?
R: Para se tornar infeccioso ao homem o vírus passa por um período de incubação no mosquito de 10 dias. Após essa fase o mosquito estará infectado para o resto da vida e transmitirá o vírus em todas as picadas que realizar.
9) Quais as principais linhas de pesquisa desenvolvidas na Fiocruz em relação ao Aedes?
R: O Ae. aegypti talvez seja o mosquito mais bem estudado até hoje. O seu controle está diretamente relacionado à eliminação dos criadouros domésticos, considerando-se os conhecimentos existentes sobre a sua biologia. No campo da entomologia (parte da ciência que estuda os insetos), a Fiocruz vem desenvolvendo várias linhas de pesquisa sobre a biologia e ecologia de mosquitos vetores de doenças no Brasil:
1. Potencialidade de espécies silvestres transmissoras de arboviroses e malária conviverem com o homem em áreas peri-urbanas, rurais e turísticas.
2. O impacto causado pela construção de hidrelétricas, atividades de mineração (inclusive garimpos clandestinos) e assentamento de novos colonos ("sem terra") em áreas com alto risco de doenças transmitidas por mosquitos (malária, febre amarela silvestre e outras arboviroses).
3. Estudos sobre a biologia e ecologia de mosquitos em ambiente silvestre (Parques Nacionais e Estaduais), visando fornecer subsídios para o controle daqueles que eventualmente venham a transmitir doenças ao homem.

0 comentários:

Postar um comentário

Publicidade: