Síntese dos ideais estéticos que deram origem ao Renascimento, a obra de Leonardo da Vinci, genial pintor, escultor, engenheiro, arquiteto e cientista, foi um dos pilares sobre os quais se assentaram diversos domínios da ciência e da arte.
Entre 1506 e 1513 Leonardo novamente residiu em Milão, onde tornou-se conselheiro artístico do governador francês, Charles d'Amboise, e projetou para ele um novo palácio. Com o restabelecimento da dinastia Sforza, Leonardo foi para Roma, em 1513, onde permaneceu sob a proteção de Giuliano de Medici, irmão do papa Leão X. Nessa época, aprofundou suas pesquisas ópticas e matemáticas. Depois da morte de Giuliano, em 1516, Leonardo foi para Amboise, a convite de Francisco I, que o nomeou primeiro-pintor, engenheiro e arquiteto do rei. Continuou então os estudos de hidráulica, ao mesmo tempo em que organizou cadernos de apontamentos e preparou festas para a corte.
Leonardo voltou sua curiosidade para todos os campos do saber e da arte, e em cada um deles afirmou seu gênio. Apesar de não ter realizado as grandes obras com que sonhava na pesquisa científica, a vasta informação contida em seus apontamentos e desenhos é suficiente para demonstrar a universalidade de seu saber. Ao estudo da estática e da dinâmica dedicou algumas de suas pesquisas mais valiosas. Baseou-se na leitura da obra de Aristóteles e de Arquimedes, às quais foi um dos primeiros a acrescentar contribuição original.
Da Vinci estudou ainda as condições de equilíbrio sobre um plano inclinado e enunciou o teorema do polígono de sustentação da balança. Realizou pesquisas originais sobre os centros de gravidade -- no que antecipou-se a Galileu -- e idealizou uma máquina destinada a testar a resistência dos fios metálicos à tração. Ainda no domínio da física, estudou os efeitos do atrito e enunciou definições para força, percussão e impulso.
A partir do vôo dos pássaros, Leonardo determinou os princípios da construção de um aparelho mais pesado do que o ar, capaz de voar com a ajuda da força do vento. Entre seus desenhos incluem-se esboços de um aparelho bastante parecido com o helicóptero moderno e o esquema de um pára-quedas. De sua atividade como projetista militar destacam-se os vários desenhos de canhões, metralhadoras, carros de combate, pontes móveis e barcos, bem como estudos sobre a melhor maneira de abordagem de um barco grande por um pequeno, o esquema de um submarino e bombardas. Leonardo inventou também máquinas hidráulicas destinadas à limpeza e dragagem de canais, máquinas de fiar, trivelas, tornos e perfuratrizes. Também antecipou-se aos urbanistas com seus projetos de cidades.
Pintura. No Trattato della pittura, Leonardo da Vinci defendeu essa forma de arte como indispensável à realização da exploração científica da natureza e aconselhou os pintores a não se limitarem à expressão estática do ser humano. Utilizava ao pintar todos os seus conhecimentos científicos: suas figuras humanas derivavam diretamente dos estudos de anatomia, enquanto as paisagens revelavam o conhecimento de botânica e geologia.
Muitas de suas obras se perderam, foram destruídas ou ficaram inacabadas. Conhecem-se apenas cerca de 12 telas de Leonardo de autenticidade indiscutível. Ao longo de sua obra, é visível a importância cada vez maior que o artista concede aos contrastes entre luz e sombra, e, principalmente, ao movimento. Com o sfumato, que dilui as figuras humanas na atmosfera, Leonardo realizou síntese admirável entre modelo e paisagem.
A "Última ceia", um dos quadros mais famosos do mundo, foi muito danificada e sofreu diversas restaurações, motivo pelo qual pouco resta do original. É inigualável, no entanto, a solidão de Cristo, em contraste com a agitação dos apóstolos, dividos em grupos de três. Judas, o traidor, é a única figura em isolamento entre eles. Os vários estudos e desenhos de Leonardo revelam a preocupação do autor com os menores detalhes da cena.
Pouco antes de morrer, no castelo de Cloux, perto de Amboise, na França, em 2 de maio de 1519, nomeou seu discípulo predileto, Francisco Melzi, herdeiro de todos os valiosos estudos, desenhos e anotações que deixava. Melzi preservou cuidadosamente a herança, mas com sua morte, cerca de cinqüenta anos após a do mestre, os manuscritos se dispersaram. Conservaram-se cerca de 600 desenhos, que representam talvez a terça parte da vasta produção de Leonardo da Vinci.
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